This town, it takes lives, without mercy, without hate
[Dallas:] The streets are in distress
The sun suffocates behind darkened skies
[G] The grass is growing on top of my feet
I'm sinking, won't be long before I'm too deep to run
[D] The line up seems endless
Underneath the salvation signs
[G] We are the dead ones, we are the lost cause
We are the bend before the break, our steps seal our fate
[Chorus] Because this city, this city is haunted
By ghosts (ghosts) from broken homes (homes)
Because this city, this city is haunted
And there's no hope (hope) left for these souls (souls)
[G] Every step I take I leave a small piece
of myself behind. Soon there will be nothing left.
[D] The cracks in the pavement
match the cracks in their weathered skin
[G] The sky's a brick wall. The ground's a juggernaut.
Each day they get a bit closer, between them, I am caught.
[D] I stare in amazement,
I can't believe this is where I live!
[G] Every breath I take I feel my lungs seal
This breeze feels more like shards of glass I'm more scars than skin!
[CHORUS]
Our steps seal fate!
This is our celebration, come join the lost souls!
(This city, this city is haunted...)
Oh! Walk with us, oh! Down! Walk with us!
-
[G] Em meu pescoço estão enterradas as garras dessa cidade
Essa cidade, ela leva vidas, sem ódio, sem piedade.
[D] As ruas estão em angústia
O sol se sufoca atrás de céus escurecidos
[G] A grama vai crescendo por cima de meus pés
Estou afundando, não resta muito até que eu esteja imerso demais pra fugir
[D] A fila parece infinita
Sob os sinais da salvação
[G] Somos nós os mortos. Nós somos a causa perdida.
Somos o curso da tragédia, nossos passos selam nossa sina.
[refrão] Pois essa cidade, essa cidade está assombrada
por fantasmas de lares falidos
Pois essa cidade, essa cidade está assombrada
e não há esperança para essas almas
[G] Cada passo que eu dou, deixo um pedaço
de mim para trás. Logo não restará nada mais.
[D] As fissuras no asfalto
se unem às fissuras de suas peles desgastadas.
[G] O céu é um grande muro. O chão é um desterro
A cada dia se aproximam, e entre eles, eu sou pego
[D] Eu observo espantado
Não posso acreditar que é aqui que eu vivo!
[G] A cada fôlego sinto meus pulmões fecharem
Esta brisa mais parece cacos de vidro; sou, mais que pele, cicatrizes
Nossos passos selam o destino!
Esse é o nosso ritual! Venham se unir às almas perdidas!
Essa cidade, essa cidade está assombrada...
Oh! Caminhem conosco, oh! No chão! Caminhem conosco!
-
"Crisis", ou "Crise": com um título auto-explicativo, o disco aborda vários tipos de crise que um indivíduo ou uma sociedade pode passar. A crise de uma juventude perdida para a dura rotina de trabalhos monótonos e mecânicos de uma cidade industrial/capitalista (em "Boiled Frogs"). A crise que uma devastadora nevasca pode causar numa cidade, tratada como o acontecimento real da nevasca canadense de 1977 e também como metáfora da frieza dos tempos (na auto-entitulada "Crisis"). A crise de perder uma amizade, por diversos motivos (como em "Keep it on Wax" e em "To a Friend").
Dentre essas outras crises abordadas no disco, "This Could be Anywhere in the World" trata de uma que assola qualquer metrópole mundial: a situação dos miseráveis, moradores de rua, mendigos, sem tetos e afins, seres que são ignorados (e criados) pelo progresso, seres resultantes dos mais diversos problemas sociais do nosso mundo. São pessoas que, apesar de serem tratadas como se não existissem, marcam sua presença no espaço, e a cada vez que essa presença cutuca os corações que a enxergam, vão se gerando ferimentos que acabam em cicatrizes, que então podem se transformar em energias construtivas ou desoladoras.
Dentre essas outras crises abordadas no disco, "This Could be Anywhere in the World" trata de uma que assola qualquer metrópole mundial: a situação dos miseráveis, moradores de rua, mendigos, sem tetos e afins, seres que são ignorados (e criados) pelo progresso, seres resultantes dos mais diversos problemas sociais do nosso mundo. São pessoas que, apesar de serem tratadas como se não existissem, marcam sua presença no espaço, e a cada vez que essa presença cutuca os corações que a enxergam, vão se gerando ferimentos que acabam em cicatrizes, que então podem se transformar em energias construtivas ou desoladoras.
"Essa cidade, ela leva vidas, sem ódio, sem piedade". Ao utilizar as expressões "sem piedade" mas também "sem ódio", a morte dessas pessoas aqui age com uma maciez devoradora. Não são assassinatos, violência direta, etc. os causadores dela – por isso o termo "sem ódio" – mas sim a própria falta de cuidados, o frio, a violência psicológica da própria condição, enfim, são os próprios fatores espaciais, o próprio ambiente hostil em si que causa a morte – e por isso, "sem piedade".
Os versos seguintes, do Dallas, seguem nessa ideia, dando um panorama do espaço: "As ruas estão em angústia / O sol se sufoca atrás de céus escurecidos". Essa angústia pode ser entendida como o próprio caos urbano, seja ele o caos da velocidade, seja o caos que uma solidão causa. As ruas assumem uma característica humana, sentem e expressam a angústia daquelas vidas que por ela transitam. O sol se sufocando com as próprias nuvens sugere uma ideia de poluição, no sentido literal mas também no figurado, poluição como os problemas nebulosos da cidade. Também, os céus não são escuros, mas escurecidos, característica que se mostra decorrente de uma ação.
Aliás, uma coisa importante a se notar na música é que ela tem um movimento bem característico: são duas vozes que cantam alternadamente, sendo que elas não representam os mesmos sujeitos-lírico. A voz de Dallas (marcadas com "D" na letra acima) mais traça panoramas, como um observador/narrador onipresente, mas que está também dentro do lugar, até por isso sua última fala é "Não posso acreditar que é aqui que eu vivo!". Enquanto isso, a outra voz (marcada por "G") representa uma relação mais sensitiva com o local, com a experiência e com a observação desses moradores de rua ou desafortunados em geral. Não sei se intencionalmente, mas o que acontece musicalmente é uma grande elevação emotiva (até pela própria voz do Dallas) nas partes mais panorâmicas, e uma noção meio desesperadora pelo vocal gritado das partes sensitivas, acompanhadas com um peso maior no som. No fim das contas, isso acaba gerando uma potência muito singular quando a gente ouve! Há uma grande mistura de sensações aí, todas elas alusivas ao que sentimos quando confrontados com esses problemas.
Praticamente todas as falas da "voz sensitiva" mostram o que um olhar sincero para essas pessoas sem vida causa. Por mais que se tente ignorar o problema, por mais que os desafortunados sejam como "fantasmas", portanto invisíveis, eles marcam presença, eles "assombram" a cidade. Sentimos as feridas sociais, porque elas estão aí por toda parte. Por isso, "A cada fôlego sinto meus pulmões fecharem / Esta brisa mais parece cacos de vidro; sou, mais que pele, cicatrizes". As almas quebradas também acabam quebrando aos poucos aquelas que as enxergam, num outro sentido. Vão incomodando e ao mesmo tempo fazendo com que nos incomodemos.
É também a voz sensitiva que expressa um certo aprisionamento ao lugar, talvez justamente porque quanto mais você passa a perceber o problema, mais se sente atado a ele, a cada momento que ele aparecer. São várias as referências: "Em meu pescoço estão enterradas as garras dessa cidade (...) A grama vai crescendo por cima de meus pés / Estou afundando, não resta muito até que eu esteja imerso demais pra fugir (...) Cada passo que eu dou, deixo um pedaço / de mim para trás. Logo não restará nada mais. (...) O céu é um grande muro. O chão é um desterro / A cada dia se aproximam, e entre eles, eu sou pego".
Ainda há uma outra estrofe que demonstra que os problemas foram todos trazidos e construídos por nós humanos. Foi a nossa conduta a desgraça dos espaços: "Somos nós os mortos. Nós somos a causa perdida. / Somos o curso da tragédia, nossos passos selam nossa sina". E os termos das frases estão um tanto generalizados; por "nossos passos", podemos entender tanto as decisões mais macro-políticas, em que a tragédia é fruto dos direcionamentos do sistema, quanto as micro-políticas, de a todo momento nos isentarmos da responsabilidade.
Passando a atenção agora à "voz panorâmica", tão imagética quanto a outra, vemos o quanto uma imagem vai completando as outras. O verso "A fila parece infinita / Sob os sinais da salvação" indica dois sentidos: o figurado, de que a fila para a salvação divina parece não acabar nunca; e o literal, de as filas para as organizações de ajuda humanitária (lá fora chamadas muitas vezes de "Salvation-alguma-coisa"), para conseguir comida, banho entre outras coisas da dignidade humana, serem enormes.
Mas a imagem que, particularmente, acho mais foda nessa música é "As fissuras no asfalto / se unem às fissuras de suas peles desgastadas". Esse verso trás um tipo de "determinismo metafórico" pelas características do espaço se misturarem com as características físicas, as rachaduras da pele coexistem com as da rua, e aqui como simbologia de desolação e de cansaço: só é possível rachar aquilo que é (ou já foi) duro e seco.
Quanto ao refrão, vemos que os "fantasmas que assombram a cidade" são frutos, no fim das contas, de "lares falidos". O termo usado é preciso, nos faz entender "falidos" como sendo qualquer dos mais diversos problemas destruidores de uma família bem estruturada: poderia ser problemas gerados pelo álcool, drogas, desemprego, depressão, violência doméstica, etc. Por sua vez, a segunda parte do refrão arrebata o clima de desespero que emana de toda a música com uma frase de desesperança.
Contudo, o finalzinho da música é um pouco diferente, é a única parte que tem um pingo de esperança, que busca trazer um pingo de claridade. "Nossos passos selam o destino" vem nos lembrar que se é a conduta humana que gerou essa condição, será ela a única capaz de inventar uma solução. Como? O verso seguinte dá a direção: "Esse é o nosso ritual! Venham se unir às almas perdidas!" e o último verso torna ainda mais explícito: "Oh! Caminhem conosco, oh! No chão! Caminhem conosco!". Ou seja, o fim da música é a voz dos próprios seres invisíveis tentando clamar por união, convidando-nos (a todos aqueles que não os enxergam) a nos unirmos todos, a ouvirmos as vozes das ruas, a caminhar com os subalternos, a começar a olhar o outro como humano e não como empecilho, para assim acabar com a assombração. Aliás, o verso "Essa cidade é assombrada" invade esse fim da música, parece que justamente pra mostrar que a solução é "que se caminhe conosco".
Passando a atenção agora à "voz panorâmica", tão imagética quanto a outra, vemos o quanto uma imagem vai completando as outras. O verso "A fila parece infinita / Sob os sinais da salvação" indica dois sentidos: o figurado, de que a fila para a salvação divina parece não acabar nunca; e o literal, de as filas para as organizações de ajuda humanitária (lá fora chamadas muitas vezes de "Salvation-alguma-coisa"), para conseguir comida, banho entre outras coisas da dignidade humana, serem enormes.
Mas a imagem que, particularmente, acho mais foda nessa música é "As fissuras no asfalto / se unem às fissuras de suas peles desgastadas". Esse verso trás um tipo de "determinismo metafórico" pelas características do espaço se misturarem com as características físicas, as rachaduras da pele coexistem com as da rua, e aqui como simbologia de desolação e de cansaço: só é possível rachar aquilo que é (ou já foi) duro e seco.
Quanto ao refrão, vemos que os "fantasmas que assombram a cidade" são frutos, no fim das contas, de "lares falidos". O termo usado é preciso, nos faz entender "falidos" como sendo qualquer dos mais diversos problemas destruidores de uma família bem estruturada: poderia ser problemas gerados pelo álcool, drogas, desemprego, depressão, violência doméstica, etc. Por sua vez, a segunda parte do refrão arrebata o clima de desespero que emana de toda a música com uma frase de desesperança.
Contudo, o finalzinho da música é um pouco diferente, é a única parte que tem um pingo de esperança, que busca trazer um pingo de claridade. "Nossos passos selam o destino" vem nos lembrar que se é a conduta humana que gerou essa condição, será ela a única capaz de inventar uma solução. Como? O verso seguinte dá a direção: "Esse é o nosso ritual! Venham se unir às almas perdidas!" e o último verso torna ainda mais explícito: "Oh! Caminhem conosco, oh! No chão! Caminhem conosco!". Ou seja, o fim da música é a voz dos próprios seres invisíveis tentando clamar por união, convidando-nos (a todos aqueles que não os enxergam) a nos unirmos todos, a ouvirmos as vozes das ruas, a caminhar com os subalternos, a começar a olhar o outro como humano e não como empecilho, para assim acabar com a assombração. Aliás, o verso "Essa cidade é assombrada" invade esse fim da música, parece que justamente pra mostrar que a solução é "que se caminhe conosco".
Essa música, pra mim, é o ponto alto desse disco. Ela consegue abordar um tema tão sério e de uma maneira tão representativa, com imagens tocantes, projetando uma perspectiva local para algo mais geral. Por ser uma banda canadense e por ela tratar, ao longo do CD, de assuntos e fatos ocorridos no Canadá, é muito provável que essa música fale, num primeiro momento, da cidade específica de Toronto. Essa cidade possui um grande problema de moradores de rua que vagam por lá sem qualquer perspectiva. Mas como o próprio título da música diz, "Isto poderia ser em qualquer lugar do mundo", e obviamente a banda sabe que há lugares no mundão em condições muito piores, condições que nunca caberiam numa música. Mas acho muito interessante expor uma perspectiva como essa, pois muitos não acreditam que num país como o Canadá, tão desenvolvido e igualitário, possa ter problemas como esse, digo muitos de dentro do próprio país. A discrepância choca. Apesar de tentarem esconder o problema, como qualquer outra cidade, ele é muito evidente quando se olha pra fora da janela, e ele incomoda. Então, não é o ponto ficar comparando a pobreza de cada lugar, mas sim mostrar que mesmo para os países mais ricos, esse sistema todo tá dando é muito errado...
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